segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Oitavo Dia Os dois trabalhadores - Jejum De Daniel

Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como  favor,   sim como dívida. Mas, ao que não  trabalha, porém crê naquele que justifica o  ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4.4,5).
Escrevendo aos romanos, Paulo explica o  princípio da justificação pela fé, e não pelas obras. Ele baseia seu raciocínio em Abraão, que foi justificado somente pela fé, sem ter obra alguma diante de Deus. Ele apenas creu na graça de Deus e isso lhe foi imputado para justiça. A maneira como Deus nos justifica é exatamente essa, por crermos na Sua graça. Para ilustrar esse princípio, Paulo fala a respeito de dois trabalhadores. Primeiro, você tem o trabalhador que trabalhou e, portanto, merece receber o salário. Para esse trabalhador, o salário não é um favor do patrão, mas se trata de uma dívida que precisa ser paga. Quem trabalha não pede favor, mas cobra o que lhe é devido. Em oposição a esse, temos um segundo trabalhador que não trabalhou. Não sabemos porque ele não trabalhou, mas o fato é que ele precisa do salário, e por isso mesmo ele vem para receber no dia do pagamento.
Consegue imaginar a cena? Esse segundo trabalhador está ali na fila na maior cara de pau diante
do patrão, que lhe diz: “O que você veio fazer? E ele responde: “Vim receber”. “Mas você não
trabalhou”, replica o patrão. “Mas eu creio que o senhor é um patrão generoso que me ama, por
isso eu estou aqui para receber”. Porque aquele trabalhador crê naquele que justifica o ímpio, sua
fé lhe é atribuída como justiça. Isso é completamente insano neste mundo caído, mas essa é
justamente a graça de Deus.
O patrão é o Deus de toda provisão e riqueza, e os trabalhadores somos nós. A pergunta que lhe
faço hoje é: qual trabalhador é você? A terminologia bíblica para definir esses dois trabalhadores é
“graça” e “lei”. Esses são dois princípios de vida. O primeiro trabalhador representa aquele que
vive pela lei. Ele vem receber o salário porque trabalhou e, portanto, merece o salário. Para ele, o
salário é uma dívida. Esse é o que vive segundo o princípio da lei. A lei nos fala de merecimento e
justiça própria. Existem muitos irmãos dentro da igreja que ainda se relacionam com Deus com
base na lei e no merecimento.
O segundo trabalhador também veio receber, mas ele representa aqueles que andam pelo
princípio da graça. Ele não vem confiado no seu mérito ou justiça própria, mas confia unicamente
na graça de Deus.
Qual a diferença entre a lei e a graça? A lei exige justiça, enquanto a graça concede justiça. A lei é
o que eu faço para Deus com intuito de ser abençoado, mas a graça é o que Deus em Cristo já
fez por mim para que eu seja abençoado. A lei depende do homem. Segundo a lei, tudo depende
do homem e, se o homem não fizer por merecer, não pode ser abençoado. Isso é a lei, mas a
graça é confiar que tudo depende de Deus.
Há algum tempo, eu estava almoçando num domingo quando recebi uma ligação de um de
nossos pastores dizendo que precisava da minha ajuda. Imediatamente me dispus e lhe perguntei
o que estava acontecendo. Ele disse que tinha acontecido algo e por isso ele estava sem
condições de pregar. Eu insisti para saber qual era o problema, então ele me disse que tinha
discutido com sua esposa. Isso não é algo tão grave assim, por isso insisti para saber que o tinha
acontecido. Ele contou que não tinha sido uma discussão qualquer, mas eles tinham erguido a voz
um contra o outro, falaram de uma maneira muito áspera e, num certo momento, a esposa lhe deu
um empurrão. Ele me disse que estava com seu espírito abatido e sem condições de falar.
Naquele momento, eu percebi que era uma boa ocasião para ajudá-lo a se tornar como o segundo
trabalhador da parábola. Eu lhe disse: “Você já confessou o seu pecado? Crê que foi perdoado?
Então, hoje será um dia importante em sua vida. Hoje, o seu ministério vai mudar. Faça o
seguinte: você irá pregar no primeiro culto e sua esposa, no segundo, e eu e minha esposa
estaremos aí para ouvir vocês ministrando”.
Sei que você está pensando que eu fui muito duro com ele, mas a verdade é que eu queria que
ele conhecesse a graça de Deus. Eu a expliquei a ele: “Hoje, você vai aprender que Deus não o
usa porque você merece, mas por causa de Sua graça. Hoje, você vai entender que Deus não o
usa porque você foi bonzinho naquele dia. Não pense que você merece a bênção de Deus
quando você é carinhoso e amável com sua esposa. Hoje, você vai aprender que sua justiça é
Cristo e que Sua justiça é a mesma tanto no dia em que você é bonzinho quanto no dia em que
discute com a sua esposa”.
Evidentemente, eu não agiria dessa forma se ele tivesse cometido um pecado escandaloso, pois,
nesse caso, haveria a necessidade de disciplina, mas muitos vivem debaixo de condenação
diante da acusação maligna.
Ele insistiu comigo para não pregar, pois estava se sentindo muito mal, mas eu lhe expliquei que
aquela sensação era apenas acusação do diabo. Muitas vezes, pensamos que precisamos aceitar
a acusação porque realmente estamos errados, mas isso é mentira. Não devemos aceitar
acusação em circunstância alguma.
Às 17 horas, eu e minha esposa estávamos lá sentados no primeiro banco. Ele pregou no primeiro
culto e foi uma bênção, a palavra fluiu e o ambiente estava muito bom. Mas o segundo culto foi
ainda melhor. Sua esposa começou dizendo que não era digna de estar ali e toda a congregação
começou a se comover. A unção de Deus era muito viva no ambiente. Mas aquele casal de
pastores ficou realmente estupefato. Como Deus poderia abençoá-los quando haviam saído tão
fora do padrão?
Eles haviam descoberto uma verdade fundamental para todo cristão, tudo depende de Cristo e da
Sua justiça. Não a nossa, mas a justiça d’Ele. Nossa justiça é uma pessoa, Cristo. Quando nos
comportamos bem, nossa justiça é Cristo, mas se nos comportamos mal, ainda somos justos, pois
nossa justiça é Cristo. Entretanto, é preciso ter uma grande fé para receber o salário sem ter
trabalhado. Em outras palavras, é preciso de uma grande fé para pedir a bênção quando sabemos
que não a merecemos.
Alguém pode questionar: “Mas justamente no dia em que menos mereciam, esse foi o dia em que
mais foram abençoados?”. Simplesmente porque ninguém vai poder se gloriar diante de Deus
dizendo que fizeram ou mereceram alguma coisa. Não podem ter glória pela bênção naquele dia.
No dia do juízo, o Senhor Jesus vai receber toda a glória, mas, para que Ele tenha toda a glória, é
preciso que todo o trabalho seja d’Ele. Alguns imaginam que podem se gloriar da unção que
possuem, dizendo: “Eu orei, eu trabalhei para isso, eu paguei o preço”. Esses são como os
trabalhadores que vieram para receber porque trabalharam. Se hoje a sua obra não é feita pela
graça, ela não será aceita diante de Deus.
É sempre bom lembrar a definição teológica da graça. Graça é o favor imerecido. Se é merecido,
já não é graça, mas lei. Quem trabalhou merece receber, isso é lei. Mas quem não trabalhou
nunca poderia merecer o salário, mas se mesmo assim o patrão lhe dá o dinheiro, isso é graça.
Você prefere a lei ou a graça? Não existe ninguém com a mente sã que prefira a lei. Mas mesmo
assim somos tentados a viver pela lei do merecimento. Quando avaliamos que não merecemos,
não conseguimos nos relacionar com Deus, não temos fé para pedir grandes coisas e imaginamos
que Ele está irado conosco. Esse é o quadro do primeiro trabalhador. Se, naquele mês, ele não
pôde trabalhar por alguma razão, vai passar fome achando que merece ficar sem pagamento,
afinal ele não trabalhou mesmo.
O problema hoje é que muitos pregam a lei do Velho Testamento. Não estou dizendo que o Velho
Testamento não é Palavra de Deus, eu mesmo sou professor de Velho Testamento. Todavia, o
Velho Testamento deve ser ensinado para falar de Cristo de forma alegórica, como sombra,
enquanto, no Novo Testamento, pregamos Cristo como realidade. Muitos falam do Velho
Testamento sem mostrar Cristo e o resultado é que tomam a lei e a misturam com o Novo
Testamento. O resultado é confusão. O Velho Testamento é a lei, enquanto o Novo Testamento é
a graça. São duas coisas incompatíveis, não é possível estar nos dois ao mesmo tempo. Se
pregamos a lei, anulamos a graça.
Deuteronômio 28 diz que “se atentamente ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de
fazer segundo tudo quanto está escrito no livro da lei, então, e somente então, virão e te alçarão
todas essas bênçãos”. A bênção no Velho Testamento não era para quem queria, mas era
somente para quem obedecia. Isso significa que não precisamos mais obedecer? Devemos
obedecer, mas não mais vivemos pela lei do merecimento. Inconscientemente muitos vão
assimilando o padrão do merecimento e vivem uma vida pesada cheia de jugos e fardos.
Os dois trabalhadores
O que acontece com aquele irmão que vive como aquele primeiro trabalhador, aquele que acha
que merece o seu salário? Como vive com base no mérito pessoal, ele acredita que somente
pode receber a bênção se a merecer. Imagine um líder de célula. Ele passou a semana toda e não
conseguiu separar um tempo para orar. Como será atitude dele no dia da reunião? Ele terá
ousadia para falar? Quem vive pelo merecimento sempre cai na acusação do diabo. O inimigo lhe
diz: “Você não orou, você não cumpriu as condições, então você não merece ser abençoado. Não
seja hipócrita, é melhor até parar de liderar!”. Normalmente, quem vive como o primeiro
trabalhador da parábola não aceita liderar porque imagina que nunca conseguirá trabalhar o
suficiente para merecer o pagamento da bênção.
Para muitos irmãos, a liderança é algo que eles evitam a todo custo porque lhes parece algo
angustioso e pesado. É pesado porque eles sentem sempre que não oraram o suficiente, não
leram a Bíblia o suficiente, não foram bons o suficiente, então eles se sentem continuamente em
falta diante de Deus. Não vivem em liberdade, mas estão sempre debaixo de condenação.
A coisa toda fica mais complicada quando esse trabalhador conclui que ele cumpriu todas as
condições e, portanto, merece receber a bênção. Então, naquela semana, ele ora todos os dias,
estuda meticulosamente a mensagem, age bem em casa e no trabalho, em fim, comporta-se
como um bom crente. Confiado nisso, ele presume que a reunião da célula será uma bênção
tremenda, mas, para o seu desespero, a reunião é muito pesada e ninguém percebe a presença
de Deus.
O que ele não percebe é que, ao concluir que merece a bênção, ele ficou com um problema
diante de Deus. Como orou todos os dias, ele pode cobrar de Deus uma reunião abençoada.
Como foi fiel durante toda a semana, ele pode cobrar que a célula cresça. Como, ainda assim,
Deus não o abençoa, ele presume que deve ter um Acã que está impedindo a bênção de Deus no
grupo. Mas a verdade é que Deus não pode nos abençoar se nos relacionamos com Ele com
base na lei, no merecimento e na justiça própria.
Não estou dizendo que você pode viver relaxadamente, que não precisa orar ou viver em
santidade. O problema é quando você transforma tudo isso em moeda de troca com Deus.
Oração, por exemplo, é uma necessidade espiritual de quem ama e se relaciona com o Pai, mas
muitos a transformam em lei. Quando fico sem orar, sinto fome, mas muitos, quando ficam sem
orar, sentem acusação. Essas pessoas fazem da oração a moeda de troca com Deus. Se elas
oram uma hora por dia, então podem receber uma alma na célula. Mas se quiserem dez almas,
terão de orar dez horas por dia.
Muitos nem ousam pedir alguma bênção, porque se sentem indignos de receber. Eles são como o
trabalhador que acha que merece o salário. Esse trabalhador vive quase sempre debaixo de
condenação porque nunca consegue cumprir todas as condições para receber a bênção. Quando
você se relaciona com Deus com base na troca, você tem sérios problemas.
Quem vive debaixo da lei vive sempre com a alma cansada, porque pensa que tem de agradar a
Deus com algo que precisa fazer. Evidentemente, todos nós precisamos ter obras, trabalhar para
Deus, mas isso precisa ser resultado de um relacionamento, e não uma constante tentativa de
conquistar o amor e o favor de Deus.
Você é muito amado do Senhor, e Ele deseja abençoá-lo tremendamente, mas Ele não pode
abençoar a lei, porque, se Ele abençoar o que vive segundo lei, estará anulando o sacrifício de
Cristo. É como se Ele dissesse que Cristo não precisava ter morrido. Se fosse possível agradar a
Deus o suficiente para merecer a Sua bênção, não precisaria de Cristo ter vindo para morrer em
nosso lugar. O sacrifício de Cristo é a base de tudo. É a obra perfeita e consumada que nos faz
justos diante de Deus.
Quando você orar, faça-o confiado na justiça de Cristo que lhe foi dada gratuitamente. Se
pensamos que estamos bem com Deus porque oramos e jejuamos, então somos como os
fariseus. Nada do que fazemos nos faz aceitáveis diante de Deus. Somente pelo sangue de Cristo
podemos nos aproximar d’Ele: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para
que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2 Co 5.21). Agora eu sou justiça de Deus, porque
minha justiça é Cristo.
Muitos imaginam que não podem pedir uma bênção grande porque não são dignos. Então,
quando eles veem alguém recebendo uma grande bênção, logo concluem que tal pessoa deve ser
muito boa, santíssima. Por causa disso, idolatram homens abençoados, porque pensam que são
muito melhores que os demais. Se soubéssemos que, onde abundou o pecado, superabundou a
graça, teríamos outra opinião. Aquele que foi mais abençoado certamente era o menos
merecedor, mas creu na graça, creu que poderia receber sem trabalhar.
Uma outra característica dos que vivem pela lei é que sua vida cristã é muito penosa. Um acha
que para ganhar a bênção tem de trabalhar muito, enquanto o outro vem receber sem trabalhar.
Qual dos dois vive melhor? Evidentemente, é o primeiro que vive penando. Lembre-se de que o
princípio da lei é abençoar quem merece, enquanto graça é abençoar quem não merece. Você
não pode comprar a bênção, não podemos fazer barganha com Deus. A única maneira de
recebermos é pela graça.
Aquele que vive pela lei tenta fazer Deus ficar em dívida com ele. Você fez a sua parte, então
agora Deus tem de fazer a d’Ele. Ele agora está em débito com você. Mas Deus não nos deve
coisa alguma, pois Suas condições são altíssimas e jamais poderíamos cumpri-las, por isso Cristo
veio cumprir a lei em nosso lugar.
Muitos temem que, diante dessa mensagem, os irmãos não queiram mais trabalhar ou contribuir
na casa de Deus, mas é exatamente o oposto disso que acontece. Se você experimentar a graça
de Deus, você será tão atraído pelo Senhor que sua vida será completamente transformada.
Aquele que se sente amando tentará corresponder ao amor que ele recebe, mas aquele que não
se sente amando, invariavelmente cairá no pecado. Aquele primeiro trabalhador acredita que o
Senhor só ama aquele que trabalha. Quando ele não trabalha, também não se sente amado.
Infelizmente, muitos ainda não tiveram uma experiência de descobrir o amor de Deus por eles.
Simplesmente, não se sentem amados. Eles observam outros que são abençoados e nem
possuem uma vida tão reta assim, enquanto eles que se esforçam tanto para viver em santidade
ainda vivem uma vida miserável. Qual a conclusão inevitável? Deus não me ama, ou então me
ama menos que a outros.
Se um crente não se sente amando, a vida cristã será para ele uma mera obrigação religiosa e
legalista. Servem a Deus com base no medo da condenação. Eles até pregam para os outros que
Jesus os ama, mas a mensagem deles não tem poder, porque eles mesmos não se sentem
amados. Buscou tanto aquela bênção e ela não veio, fez tudo que sabia e nada aconteceu, e
agora aquele outro que não fez nada, está recebendo a bênção.
Desde o começo, o Senhor quis lhe dar muito mais, mas você só pediu o que acha que merece
pelo trabalho que fez. Porque vive na lei, não tem fé para pedir coisas maiores. O tamanho dos
seus pedidos a Deus é o tamanho da revelação que você tem da graça.
Se você é líder, saiba que o tamanho do seu ministério não é a expressão da sua capacidade, o
tamanho do seu ministério não é na proporção da sua inteligência, o tamanho do seu ministério
não é o tamanho da sua habilidade para realizar coisas, mas ao contrário do que todos pensam, o
tamanho do seu ministério revela o quanto você conhece a graça de Deus. Porque quem conhece
a graça pede muito, quem conhece pouco só pede um pouquinho ou não pede nada.
A bênção é para quem não merece. Se merecer já não é bênção, mas pagamento de dívida.
Enquanto você achar que merece muito não vai receber nada, porque você está se identificando
com o trabalhador errado, o trabalhador que vive segundo a lei.
Lembre-se de que há dois tipos de homens trabalhando sob dois princípios de vida: a lei e a
graça. Há irmãos que vivem cansados e aqueles que pensam que a visão e o ministério da igreja
estão destruindo a vida deles. Na vida da igreja, temos esses dois tipos de trabalhadores: temos
aqueles que trabalham e por isso esperam o pagamento, e temos os que não trabalham e
igualmente esperam receber o pagamento.
Os primeiros não precisam exercitar fé, pois o pagamento para eles é uma dívida. Eles trabalham
e merecem. Para o segundo grupo, o pagamento é uma questão de fé. Eles não merecem receber
nada, mas precisam crer no Deus que justifica o ímpio.
Os primeiros trabalhadores vivem segundo a lei; enquanto o segundo grupo vive pela graça.
Aqueles que trabalham pela lei confiam em seu mérito pessoal. Presumem que somente poderão
ser abençoados se merecerem, e por isso vivem debaixo de constante condenação. Será que orei
o suficiente, estudei o suficiente, será que fui bom o suficiente? Eles acreditam que a obra é feita
pelo seu esforço, pelo seu braço e, portanto, vivem debaixo de condenação, porque sabem que
nunca conseguem cumprir a exigência para receber a bênção.
Quando julgam ter cumprido as condições, se sentem bem, mas isso é passageiro, porque logo
começam a sentir novamente condenação. Eles vivem com a alma cansada, porque pensam que
devem agradar a Deus pelas suas obras. Pensam que o pagamento é algo que eles conquistam,
mas o pagamento nos é dado pela graça.
Pensam que a vida cristã é sempre penosa. Concluem, pois, que existe alguma verdade
misteriosa que eles ainda não conhecem, e por isso não prosperam. Presumem que existem
alguns mais amados por Deus que outros. Pensam que alguns são mais amados porque são mais
santos e por isso possuem maior bênção.
Como posso me tornar como o segundo trabalhador, aquele que não trabalhou, mas veio receber?
Gostaria de compartilhar pelo menos três princípios espirituais.
Como podemos nos tornar como o segundo trabalhador?
1. Precisamos crer no Deus que justifica o ímpio

O primeiro princípio é que você precisa crer no Deus que justifica o ímpio. A afirmação de Paulo a
respeito do segundo trabalhador é realmente ousada. Ele diz que o segundo trabalhador veio
receber sem ter trabalhado porque ele crê nos Deus que justifica o ímpio. Um Deus que justifica o
ímpio? Que Deus é esse? Que mensagem é essa? Todo aquele que ensina que Deus justifica o
ímpio será perseguido, como Paulo foi. Os fariseus não aceitam esse ensino em hipótese alguma.
Em outras palavras, você precisa reconhecer que não merece, que não possui justiça própria,
que não é bom o suficiente para receber a bênção de Deus. Precisamos reconhecer que a nossa
justiça própria é como trapo de imundícia, mesmo depois de convertido. Devemos estar entre
aqueles que creem que a nossa justiça é Cristo.
Precisamos entender que fomos justificados, e não apenas perdoados. Ser perdoado é bom, mas
é diferente de ser justificado. Ser considerado justo é muito superior. Suponha que você tenha me
roubado algo. Isso faz de você um ladrão. Mas suponha que eu tenha lhe perdoado. Nesse caso,
você seria um ladrão perdoado, mas continuaria sendo um ladrão. Você não se tornaria justo
simplesmente porque eu lhe perdoei. Deus deseja ter mais que pecadores perdoados. No céu,
não há ladrões perdoados, só há justos.
Ser justo é diferente de ser um pecador perdoado. Qual é a única maneira de ser justo? Seria se,
por um milagre, você morresse e então ressuscitasse, nascesse de novo. Então, você não teria
mais passado. Somente assim poderia ser considerado justo. E foi exatamente isso que Deus fez
conosco em Cristo. Quando o Senhor Jesus derramou o Seu sangue na cruz, Ele perdoou todos
os nossos pecados.
Você é perdoado, mas existe uma verdade ainda maior: quando Cristo morreu, nós morremos
com Ele, e quando Ele ressuscitou, nós ressuscitamos com Ele, e agora Ele é a nossa vida. E se
Ele é a nossa vida, isso significa que Ele também é a nossa justiça. Você foi enxertado no justo,
você agora é membro do justo. Só existe um que é justo, o Senhor Jesus Cristo, e você é justo
porque você está n’Ele.
Você foi enxertado em Cristo e Ele agora é a sua justiça. Se Cristo é a sua justiça, então naquele
dia em que você pensa que não se comportou bem, você ainda é justo. A sua justiça é Cristo, e
não os seus atos de justiça. Se a sua justiça forem os seus atos, então você ainda está vivendo
na lei, porque, pela lei, só é justo aquele que obedece. Mas, pela graça, mesmo naquele dia em
que desobedece, você ainda continua sendo justo. Sei que parece muito bom para ser verdade,
mas é verdade e é bom mesmo!
É claro que você deve se arrepender e confessar sempre que o Espírito lhe mostrar o seu pecado,
mas quando você confessa seu pecado e se arrepende, você continua sendo justo. Todavia, se
você não crê no Deus que o justifica mesmo quando você não parece ser tão justo, você nunca
conseguirá avançar na vida cristã.
Não dá para servir a Deus se achando sempre um miserável que não merece coisa alguma. Não
conseguimos expulsar demônios se pensamos que não temos justiça para isso. Diante do inimigo,
não teremos fé e retrocederemos. Precisamos fazer todas as coisas sabendo que a nossa justiça
é Cristo.
Mas ainda há muitos entre nós que vivem segundo a lei. Outro dia, alguém veio contar-me que
manifestou um demônio numa de nossas células. Naquele momento, o líder mandou que o
endemoninhado olhasse para a sua mão e lhe disse: “Olhe para essa mão! Aqui tem oito anos de
santidade. E agora essa mão com oito anos de santidade será colocada sobre você”.
É triste, mas mesmo oito anos de santidade não são suficientes para expulsar um demônio.
Precisamos da justiça de Cristo. Aquele líder deveria, na verdade, dizer assim para o diabo: “Olhe
para mim! Você não está vendo a mim, mas está vendo a Cristo, porque eu estou em Cristo e
você não pode resistir-Lhe. Eu e Cristo somos um, porque aquele que se une ao Senhor se tona
um só espírito com Ele. Eu sou membro d’Ele agora. Então, quando eu colocar a minha mão
sobre você, será Cristo quem estará colocando”. Somente assim podemos ter ousadia verdadeira.
Não dependemos de nossa justiça, mas de Cristo.
Aqueles que vivem pela lei estão sempre se olhando para ver se possuem algum mérito diante de
Deus. A introspecção é um grande problema na vida cristã. Muitos vivem debaixo de acusação
todo o tempo e pensam que isso é o convencimento do Espírito. Qual a diferença entre o Espírito
Santo trazendo convencimento do pecado e o acusador trazendo acusação e condenação? Na
verdade, o Espírito não precisa mais convencer o crente a respeito do seu pecado. Nós temos
cônjuges que desempenham essa função muito bem.
Todo crente possui uma consciência em seu espírito e imediatamente ele sabe quando fez algo
fora da Palavra de Deus. Ninguém precisa de uma revelação especial para saber que pecou. O
Espírito Santo está trabalhando para convencer o crente que ele é justo em Cristo. Mesmo
quando você falha, Ele está sempre presente para lembrá-lo que você é purificado pelo sangue do
Cordeiro. O que realmente precisamos é que o Espírito Santo nos dê revelação de que Cristo é a
nossa justiça.
Quando falhamos, precisamos ser lembrados que ainda somos justiça de Deus em Cristo. Para
crer que Deus ainda nos vê como justos mesmo quando erramos, é necessária uma grande
revelação do Espírito Santo. A justificação pela fé somente pode ser entendida pela revelação do
Espírito.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não
crêem em mim (Jo 16.8).
Ele veio para convencer o mundo. E mesmo assim não é convencê-lo de cada pecado no plural,
mas do pecado no singular. O pecado é a descrença na obra de Cristo. Esse versículo se refere
aos incrédulos. Mas o verso seguinte complementa quando o Senhor diz aos discípulos: “ [...] da
justiça, porque vou para o Pai, e vós não me vereis mais” (Jo 16.9). Observe que aqui ele estava
falando com os discípulos.
Porque precisamos ainda ser convencidos da justiça? Simplesmente porque pensamos que
somos justos quando fazemos coisas corretas, mas o ser justo é permanecer justo diante de Deus
por sustentar uma fé correta no sangue de Jesus. O Espírito Santo é o ajudador. Ele foi enviado
para ajudá-lo, e não para importuná-lo. Ele não é um sujeito implicante que veio para atormentá-lo
o tempo todo mostrando o quanto você é indigno.
Abandone toda introspecção. Ficamos olhando para nós mesmos tentando achar algum mérito,
alguma coisa boa na qual possamos nos firmar para reivindicar a bênção. Mas quando você olha
para Cristo e se esquece de si mesmo, você tem fé para receber aquilo que precisa de Deus.
A introspecção abate a sua fé. O Espírito Santo é o seu ajudador. Ele está aqui para levantar
você, e não para abatê-lo. Ele está aqui para gerar fé, e não incredulidade. Ele está aqui para
trazer justiça, paz e alegria no espírito. O reino de Deus não é comida e nem bebida, mas é
justiça, paz e alegria no espírito (Rm 14.17). Isso significa que todas as vezes que o Espírito
Santo está operando, você vai sentir justiça, paz e alegria; mas toda vez que o diabo estiver
agindo, você se sentirá desqualificado, amarrado, triste e infeliz. É verdade que o Espírito Santo
também produz em nós uma tristeza segundo Deus, mas mesmo essa tristeza é vida dentro de
nós.
2. Precisamos de uma grande fé para receber sem trabalhar
É preciso muita fé para não trabalhar e mesmo assim chegar para receber o salário. Muitos de
nós não temos mais porque achamos que não merecemos, ou seja, estamos ainda nos
relacionando com Deus segundo o mérito da lei.
A grande arma do diabo contra os crentes é a acusação. Ela é a causa por que não temos mais
líderes sendo levantados em nosso meio. Os irmãos se avaliam e concluem que Deus nunca
poderá abençoar o trabalho deles, pois são indignos. Muitos estão sempre procurando alguém
ungido para orar por eles, porque imaginam que Deus não os ouve, mas certamente ouvirá aquele
ungido que é mais santo.
Não estou dizendo que não podemos receber oração e ministração uns dos outros, mas isso
torna-se um problema quando agimos com uma mente religiosa. Antes, orávamos aos santos
católicos para que eles pedissem a Deus por nós, já que, sendo eles santos, Deus não lhes
negaria um pedido. Mas quando viemos para a vida da igreja, apenas trocamos o santo católico
pelo pastor ungido. Pensamos que ele está mais perto de Deus e, por isso, se ele orar por nós,
então receberemos.
Uma vez que Cristo é a nossa justiça, nós podemos orar com ousadia, pois já não é segundo o
nosso merecimento, mas segundo a justiça de Cristo. Precisamos ter claro que jamais
mereceremos coisa alguma, tudo é por meio de Cristo.
Existem nos evangelhos dois exemplos de pessoas a respeito das quais Jesus disse que tinham
uma grande fé: o centurião romano e a mulher cananéia. O que eles tinham em comum? Ambos
eram gentios e estavam fora da aliança de Deus com Israel, por isso não mereciam receber a
bênção, mas, mesmo assim, eles creram que receberiam. Eles não tinham direito a receber coisa
alguma de Deus, mas se achegaram ao Senhor somente confiados na graça. Eles tiveram uma
grande fé (Mt 8.5-10; 15.21-28).
Ninguém pode ter fé se anda pela lei. A lei o condena o tempo todo e, assim, sua fé é anulada. Em
Romanos 4.14, Paulo diz que, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a
promessa. A bênção de Deus provém da fé, para que seja segundo a graça.
Enquanto estamos tentando merecer, nada recebemos de Deus, pois Ele jamais abençoa o
homem que possui alguma justiça própria. A bênção é sempre para aquele que não merece, pois
somente esse pode experimentar da graça.
Graça é o favor imerecido. Se o favor é merecido, então é lei. E como ninguém jamais pode
cumprir a lei, também ninguém jamais receberá milagre algum se não for pela graça. Essas duas
pessoas não tinham como merecer a bênção, não tinham justiça própria em que se apoiar,
chegaram exclusivamente pela graça.
Através desses dois exemplos, o Senhor está dizendo que fé grande tem aquele que crê sem
merecer, que vai receber sem ter trabalhado. Mesmo quando o diabo provou que você não é
digno de receber coisa alguma, você continua com a mão estendida, dizendo que vai receber por
causa da graça de Deus, e não por causa de si mesmo, vai receber por causa de Cristo Jesus.
Esse é o que possui uma grande fé.
3. Precisamos desistir de negociar com de Deus
Desista de fazer barganha com Deus. Aquele que vive na lei se relaciona com Deus de forma
doentia. Nunca sabe se Deus está bem com ele. Se as circunstâncias são boas, então Deus está
feliz; se as circunstâncias são más, então Deus está irado. Não avalie o amor de Deus com base
nas circunstâncias. Trocar favor é viver como aquela criança despetalando a rosa e dizendo: “Bem
me quer, mal me quer”. Passamos a avaliar o amor de Deus com base nas circunstâncias e no
nosso bom comportamento.
Toda religião é baseada em troca. A base de toda religião é a lei. Toda religião funciona da
seguinte maneira: se você se comporta bem, terá bênção; mas, se comporta-se mal, será punido.
Esse tipo de relacionamento religioso produz escravidão. Toda religião é escravidão, e se
voltamos a viver pela lei, estamos entrando na escravidão também. Como a religião escraviza?
Todo religioso procura sempre aplacar a ira do seu Deus e obter o seu favor através de boas
obras.
Talvez você fique espantado, mas os crentes que vivem pela lei ainda seguem esse mesmo
caminho das religiões pagãs. Eles não sacrificam pessoas, mas estão sempre procurando uma
forma de agradar a Deus e convencê-lO a abençoar-lhes. Veja, por exemplo, sua tentativa de
receber uma bênção financeira. Você tenta dar o dízimo, mas, se não resolve, você decide dar
além do dízimo. Ainda assim, a bênção não vem e, de repente, você ouve alguém dizendo que
você precisa entregar o seu Isaque. Você faz de tudo para ser abençoado do mesmo jeito que
aqueles religiosos primitivos. Mudaram os sacrifícios, mas permanece o mesmo princípio, a troca
de favores.
Não precisamos mais nos sujeitar a esse tipo de escravidão, pois agora somos filhos. Somos
abençoados porque somos filhos, e não porque somos bonzinhos. Podemos desfrutar da herança
porque somos filhos, e não porque nos comportamos bem.
Você avalia o amor de Deus com base nas circunstâncias exatamente como quando você era
criança. Quando era criança você gostava de pegar uma flor e ficar despetalando e dizendo: “Bem
me quer, mal me quer”. Será que é possível se relacionar com Deus assim? Você acorda de
manhã e tropeça no quarto escuro: “Mal me quer”. Quando entra no carro novinho e lembra que
foi o Senhor quem lhe deu: “Bem me quer”. No caminho, o pneu furou: “mal me quer”. Chegou no
trabalho e foi promovido: “Bem me quer”. Voltou para casa e a esposa estava doente: “Mal me
quer”. Alguns, infelizmente, se relacionam com Deus dessa maneira. O amor de Deus depende do
que acontece ao redor. Quando vivemos assim, ficamos doentes da alma.
Quando não temos revelação de que o amor de Deus já nos alcançou, quando vivemos buscando
o favor que já recebemos, quando desconhecemos que o preço já foi pago na cruz, vamos tentar
barganhar as bênçãos diante de Deus.
O problema da troca é que, quando os problemas aumentam, você também precisa aumentar a
moeda. A cotação da bênção sobe no mundo espiritual quando as dificuldades vêm. Não estou
dizendo que não podemos dar coisas para Deus. É claro que podemos! Mas não precisamos fazer
trocas com Deus.
Esta é a mensagem do Novo Testamento: desista de merecer, a bênção é para quem não merece.
Se merece, já não é bênção, é dívida. Se é bênção, então você não mereceu. Estamos tão
acostumados a lidar com as coisas no mundo que temos dificuldade de nos relacionar com Deus.
No mundo, todas as coisas são recebidas por mérito. Se trabalhou, recebe o salário; se estudou,
será aprovado; se esforçou-se, será recompensado. É bom que as coisas sejam assim no mundo,
mas precisamos entender que, diante de Deus, as coisas são o oposto. Nosso relacionamento
com Deus somente pode ser pela graça.
Esses dois trabalhadores representam dois tipos de vida, duas formas de se relacionar com Deus:
a lei e a graça. A lei e a graça são opostas entre si. Se desejamos agradar a Deus, precisamos
andar segundo a graça.
Segundo a lei, tudo depende do homem e da sua obediência. Segundo a graça, tudo depende de
Jesus e do que Ele realizou na cruz. A lei exige justiça, mas a graça concede justiça. A lei diz:
“Faça!”. Mas a graça diz: “Eu faço por você!”. Tudo sobre a lei tem a ver com você olhando para si
mesmo. Mas tudo sobre a graça tem a ver com você vendo a Jesus.

Sem comentários:

Enviar um comentário